terça-feira, 13 de agosto de 2013

Filmes têm recepção fria em Gramado

Lima Duarte


Chuva e vento aumentaram ainda mais o frio no fim de semana, na serra gaúcha. Ontem, 12, saiu o sol e com ele veio a expectativa de aquecimento. Todo mundo se perguntava se os ânimos também vão se aquecer. A receptividade aos filmes concorrentes tem sido fria. Aplausos protocolares, em contraste com as torrentes de aplausos para homenageados como os atores Wagner Moura e Glória Pires. Ele ganhou o Troféu Cidade de Gramado, que também vai ser atribuído a Lima Duarte - e não Barreto, como saiu aqui no outro dia. O prêmio teria de ser póstumo para poder ser dado ao diretor do mítico O Cangaceiro, dos anos 1950. Os aplausos foram pouco mais que protocolares até para o filme sensação do festival - Tatuagem, de Hilton Lacerda. Em Cannes, havia, na mostra Um Certain Regard, L’Inconnu du Lac, O Desconhecido do Lago, suspense gay de Alain Guiraudie - um serial killer age numa praia de nudistas que é ponto de pegação de homossexuais - tão bom que se igualava ao vencedor da Palma de Ouro, A Vida de Adèle, de Abdellatif Kechiche. O fato de um filme abordar o homossexualismo e ter cenas fortes pode ser um problema e terminar condenando certas produções mais ousadas ao gueto. Mas, se o filme é grande, sempre se pode esperar que, no final, vença as resistências até dos conservadores. Tatuagem conta a história de uma companhia de teatro no Recife, durante os anos de chumbo. Um cabaré literário/transgressor, animado por gays e drags. O líder do grupo, casado (com mulher) e pai de um menino, envolve-se com um soldado do Exército. O jovem é objeto de escárnio (e desejo) do próprio sargento instrutor. Hilton Lacerda é conhecido principalmente como roteirista e, como tal, tem desenvolvido uma atividade importante no cinema pernambucano. É o roteirista de Febre do Rato, de Cláudio Assis, com o qual compartilha o protagonista - o ator Irandhir Santos, em ambos representando figuras libertárias. O filme possui grandes cenas - um diálogo entre Irandhir e uma das integrantes da companhia, a mais escrachada, Paulette, e o momento em que o soldadinho, assediado pelo sargento, inverte o jogo e expõe a hipocrisia da homofobia do outro. Certos números musicais deram o que falar, mas, no geral, além de longos, são mais chulos que provocadores. O problema é, afinal, o que o diretor quer dizer. Como a história se passa em 1978, o soldado, inevitavelmente, coloca o problema da corporação - o aparelho repressivo do regime militar, que se volta contra a companhia. O filme arma um conflito que poderia ser forte, mas se dilui. O latino da noite de domingo, 11, foi mais decepcionante ainda. El Padre de Gardel, de Ricardo Casas, do Uruguai, é um documentário que sustenta a tese de que Carlos Gardel não apenas era uruguaio como era produto da relação incestuosa de um influente coronel de Tacuarembó. Poderia ser uma grande ficção, mas exigiria mais recursos. Como documentário, torna-se interessante na segunda metade, quando, inclusive, entram as cenas cantadas de Gardel (e imagens de seus filmes). Sintetizando a vida do ‘padre’ (pai) no começo, o público só teria a ganhar.

Fonte: A Tarde On Line 

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