Guerra midiática marca campanha antecipada na Venezuela
Nicolás Maduro
A campanha para as eleições do próximo dia 14 na Venezuela começa
oficialmente em 2 de abril. Mas Nicolás Maduro, presidente interino e
candidato do chavismo, e o líder da oposição, Henrique Capriles, já se
enfrentam há semanas com declarações e acusações na mídia. O principal trunfo dos governistas para conquistar votos é o uso
insistente da imagem de Hugo Chávez e a manutenção de suas políticas
sociais, que beneficiam milhões de venezuelanos. Maduro em nenhum
momento esconde querer dar continuidade à chamada "revolução
bolivariana" e, no Twitter, chegou a se autointitular "filho de Chávez". Como estratégia para manter a imagem do ex-presidente viva, a televisão
venezuelana transmite aos domingos, desde 17 de março, um resumo dos
programas gravados por Chávez desde maio de 1999, quando foi ao ar o
primeiro "Alô presidente" – palanque político mediático mais visto do
país. "É muito improvável que Capriles ganhe a eleição. A base chavista é
maioria e pode se beneficiar ainda da sombra do 'grande líder' morto,
que é glorificado como herói e mártir", diz Bettina Schorr, especialista
em América Latina da Universidade Livre de Berlim. Do lado da oposição, Capriles, atual governador do estado de Miranda,
também tenta usar a mídia. Ele perdeu as últimas eleições presidenciais
em outubro do ano passado para Chávez, que obteve 54,42% dos votos.
Mesmo assim, com 44,97%, teve a melhor marca da oposição durante a era
chavista. "Suas críticas se centram sobretudo na política econômica e têm como
alvos a alta da inflação e a desvalorização da moeda, além do aumento da
criminalidade no país. Tais aspectos, apesar de negativos, não devem
influir nas urnas, segundo especialistas. Para Thiago Gehre Galvão, pesquisador do Instituto de Relações
Internacionais da Universidade de Brasília (UNB), o caso venezuelano é
diferente, por exemplo, do brasileiro, em que os governantes são muito
mais suscetíveis às mudanças na economia. Mesmo assim, isso não significa que nada possa acontecer na próxima
eleição venezuelana. No último pleito, a diferença entre os dois
candidatos foi de cerca de 1,3 milhão de votos, número que também é
considerável", afirmou. Para os especialistas, a principal estratégia da oposição neste momento é
não perder espaço e se mostrar como opção viável para a população
venezuelana a longo prazo – com olho nas próximas eleições municipais,
estaduais e para a Assembleia Nacional, hoje totalmente dominada pelo
chavismo. "É difícil compreender como a oposição vai reverter o jogo. O grupo
chavista é muito coeso, mas eles estavam até então unificados na figura e
liderança de Chávez. É até um teste interessante para Maduro, para ver
se haverá alguma fratura dentro da composição política", opina Galvão. Para isso, afirma, Capriles deve se apresentar como uma alternativa
séria e se mostrar interessado no bem-estar de todos os venezuelanos – e
não somente um como representante dos interesses dos mais ricos. "Ele só poderá ter sucesso se o chavismo pós-Chávez entrar em colapso e
provar ser incapaz de resolver os problemas do país – o que, na minha
opinião, vai acontecer. Sem o ícone Chávez, falta no sistema a roda
determinante que faz as outras rodarem", diz Schorr. As pesquisas divulgadas antes e após a morte de Chávez, sempre
contestadas pela oposição, dão favoritismo a Maduro. A última sondagem,
desta semana e referendada pelo instituto Datanálisis e pela companhia
de serviços financeiros Barclays, aponta o candidato chavista 14 pontos
percentuais à frente de Capriles. A guerra midiática é vista de ambos os lados, mas o uso da imagem de
Chávez pelos governistas gera uma competição desigual, segundo Galvão.
Utilizar a figura do ex-presidente como ícone, afirma, é mais apelativo
do que qualquer outra imagem que possui a oposição. Mas Capriles também tem a seu favor uma rede de mídia, como o canal de televisão Globovisión e os principais jornais do país, como El Nacional e El Universal – veículos que fazem oposição ao governo chavista. "Há uma tentativa de um lado e do outro em controlar a informação. A
oposição vai usar as mesmas ferramentas para desqualificar e se
apresentar como oposição. É uma guerra midiática que se estabeleceu nos
últimos anos no país", diz Galvão.
Fonte: NOTÍCIAS | DW.DE
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