quinta-feira, 21 de março de 2013

Guerra midiática marca campanha antecipada na Venezuela

  
 Nicolás Maduro


A campanha para as eleições do próximo dia 14 na Venezuela começa oficialmente em 2 de abril. Mas Nicolás Maduro, presidente interino e candidato do chavismo, e o líder da oposição, Henrique Capriles, já se enfrentam há semanas com declarações e acusações na mídia. O principal trunfo dos governistas para conquistar votos é o uso insistente da imagem de Hugo Chávez e a manutenção de suas políticas sociais, que beneficiam milhões de venezuelanos. Maduro em nenhum momento esconde querer dar continuidade à chamada "revolução bolivariana" e, no Twitter, chegou a se autointitular "filho de Chávez". Como estratégia para manter a imagem do ex-presidente viva, a televisão venezuelana transmite aos domingos, desde 17 de março, um resumo dos programas gravados por Chávez desde maio de 1999, quando foi ao ar o primeiro "Alô presidente" – palanque político mediático mais visto do país. "É muito improvável que Capriles ganhe a eleição. A base chavista é maioria e pode se beneficiar ainda da sombra do 'grande líder' morto, que é glorificado como herói e mártir", diz Bettina Schorr, especialista em América Latina da Universidade Livre de Berlim.  Do lado da oposição, Capriles, atual governador do estado de Miranda, também tenta usar a mídia. Ele perdeu as últimas eleições presidenciais em outubro do ano passado para Chávez, que obteve 54,42% dos votos. Mesmo assim, com 44,97%, teve a melhor marca da oposição durante a era chavista. "Suas críticas se centram sobretudo na política econômica e têm como alvos a alta da inflação e a desvalorização da moeda, além do aumento da criminalidade no país. Tais aspectos, apesar de negativos, não devem influir nas urnas, segundo especialistas. Para Thiago Gehre Galvão, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB), o caso venezuelano é diferente, por exemplo, do brasileiro, em que os governantes são muito mais suscetíveis às mudanças na economia. Mesmo assim, isso não significa que nada possa acontecer na próxima eleição venezuelana. No último pleito, a diferença entre os dois candidatos foi de cerca de 1,3 milhão de votos, número que também é considerável", afirmou. Para os especialistas, a principal estratégia da oposição neste momento é não perder espaço e se mostrar como opção viável para a população venezuelana a longo prazo – com olho nas próximas eleições municipais, estaduais e para a Assembleia Nacional, hoje totalmente dominada pelo chavismo. "É difícil compreender como a oposição vai reverter o jogo. O grupo chavista é muito coeso, mas eles estavam até então unificados na figura e liderança de Chávez. É até um teste interessante para Maduro, para ver se haverá alguma fratura dentro da composição política", opina Galvão. Para isso, afirma, Capriles deve se apresentar como uma alternativa séria e se mostrar interessado no bem-estar de todos os venezuelanos – e não somente um como representante dos interesses dos mais ricos. "Ele só poderá ter sucesso se o chavismo pós-Chávez entrar em colapso e provar ser incapaz de resolver os problemas do país – o que, na minha opinião, vai acontecer. Sem o ícone Chávez, falta no sistema a roda determinante que faz as outras rodarem", diz Schorr. As pesquisas divulgadas antes e após a morte de Chávez, sempre contestadas pela oposição, dão favoritismo a Maduro. A última sondagem, desta semana e referendada pelo instituto Datanálisis e pela companhia de serviços financeiros Barclays, aponta o candidato chavista 14 pontos percentuais à frente de Capriles. A guerra midiática é vista de ambos os lados, mas o uso da imagem de Chávez pelos governistas gera uma competição desigual, segundo Galvão. Utilizar a figura do ex-presidente como ícone, afirma, é mais apelativo do que qualquer outra imagem que possui a oposição. Mas Capriles também tem a seu favor uma rede de mídia, como o canal de televisão Globovisión e os principais jornais do país, como El Nacional e El Universal – veículos que fazem oposição ao governo chavista. "Há uma tentativa de um lado e do outro em controlar a informação. A oposição vai usar as mesmas ferramentas para desqualificar e se apresentar como oposição. É uma guerra midiática que se estabeleceu nos últimos anos no país", diz Galvão.

Fonte: NOTÍCIAS | DW.DE

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