Mauritia, um microcontinente submerso no Oceano Índico
Pavel V. Doubrovine
Em um período entre 2 bilhões e 70 milhões de anos atrás, os continentes
eram unidos em um único supercontinente, chamado Rodínia. Este
supercontinente foi o pai da Panótia e avô da Pangeia, que, por
movimentos tectônicos, deram origem aos continentes atuais. Neste
primeiro processo de movimentação e separação, um microcontinente se
formou entre as regiões que hoje formam a Índia e a ilha de Madagascar, e
durou tempo suficiente para ser submerso por camadas de magma e pelas
águas que geraram o Oceano Índico. Batizada de Mauritia, esta faixa de
terra foi anunciada em estudo publicado no domingo passado pela revista
científica Nature Geoscience. Atualmente, Índia e Madagascar estão a mais de 4.000 quilômetros de
distância. No período da Rodínia, no entanto, os territórios estavam
unidos em uma mesma porção continental. Com o início da separação das
terras, uma faixa continental se formou, sobre a qual também estariam
áreas que hoje formam as ilhas de Seicheles, Reunião e Maurício. Esta
faixa foi batizada de Mauritia pelos cientistas do Earth Dinamyc Group,
da Universidade de Oslo, na Noruega. Com o tempo e com a movimentação
das placas tectônicas, Mauritia acabou se fragmentando, foi coberta por
camadas de magma e desapareceu sob as águas do atual Oceano Índico. "Ninguém nunca soube realmente como Seicheles foi parar no meio do
Oceano Índico, por exemplo. Com nossa pesquisa, identificamos que a ilha
de Seicheles se desprendeu da Índia no processo que levou à
configuração atual", afirma o pesquisador Pavel V. Doubrovine, um dos
autores da pesquisa. "Este processo causou a segmentação da parte
continental do território de Mauritia, e foi transportado ao longo do
tempo em blocos continentais", completou. Continente para sempre perdido —
Para chegar à esta conclusão, os cientistas analisaram grãos de areia
da ilhas Maurício, também localizada no Índico, 900 quilômetros a leste
de Madagascar. De acordo com os estudos, os grãos de areia da superfície
da ilha apresentam zircão (silicato de zircônio), elemento encontrado
na crosta continental, datado entre 1.000 e 600 milhões de anos atrás.
"A ilha é resultado de uma atividade vulcânica que aconteceu há nove
milhões de anos. Nesta erupção, o zircão, que estava presente em
Mauritia, foi levado para a superfície e ficou na areia da ilha",
explica Doubrovine. De acordo com o estudo publicado, é provável que existam camadas
repletas de zircão submersas pelo Oceano Índico. Essas camadas, que
teriam sido cobertas por magma, estariam em seu estado puro a mais de
dez quilômetros de profundidade. Seria uma prova da existência de
Mauritia, mas com altos custos de execução. "Ninguém possui nem dinheiro
nem estímulo suficiente para fazer esta perfuração", lamenta o
pesquisador Doubrovine. Até lá, a existência de Mauritia ficará limitada
à pesquisa e ao zircão presente na areia.
Fonte: veja.com
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