quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Anne Patterson

Caminhões da Otan sofrem novos ataques no Paquistão


Homens armados incendiaram na quarta-feira no Paquistão até 40 caminhões que levavam suprimentos para tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Afeganistão, segundo a polícia. Ataques desse tipo têm se tornando comuns nos últimos dias.  Também na quarta-feira, os EUA pediram desculpas ao Paquistão por um bombardeio que matou dois soldados em território paquistanês, algo a que a embaixadora norte-americana Anne Patterson se referiu como "terrível acidente."  Em nota, a embaixada disse que os militares a bordo de helicópteros dos EUA confundiram os soldados com insurgentes que estavam sendo perseguidos, em 30 de setembro. O governo paquistanês não se manifestou sobre essa conclusão.  O incidente causou tensão entre os dois países, levando o governo paquistanês a bloquear na semana passada as rotas de suprimento da Otan, oficialmente alegando razões de segurança.  Os ataques contra os caminhões na quarta-feira ocorreram em outras rotas. O primeiro incidente, com 20 veículos incendiados, foi perto da cidade de Quetta, no sudoeste do Paquistão. O outro caso aconteceu no noroeste.  "Há 15 a 20 caminhões-tanque, um incêndio está fora de controle, e ninguém consegue chegar perto por enquanto. Não sabemos sobre vítimas", disse por telefone à Reuters Ali Anan Qamar, funcionário da prefeitura de Nowshera.  No primeiro ataque do dia, perto de Quetta, 14 homens armados abriram fogo contra os veículos e os incendiaram, matando um motorista, segundo a polícia.  EUA e Paquistão são aliados na luta contra os militantes da Al Qaeda e Taliban, mas as ações militares norte-americanas no território paquistanês, a partir do Afeganistão, causam frequentes atritos.  Analistas dizem que os EUA intensificaram seus bombardeios teleguiados nas últimas semanas, aparentemente em resposta a sinais de que militantes do Paquistão estariam tramando atentados sangrentos na Europa.  Uma fonte paquistanesa de inteligência disse que um cidadão britânico morto em um desses bombardeios tinha ligações com um militante que tentou explodir um carro-bomba neste ano na Times Square, em Nova York - incidente pelo qual esse militante, chamado Faisal Shahzad, foi sentenciado à prisão perpétua na terça-feira nos EUA.  A fonte paquistanesa disse que o britânico morto, Abdul Jabbar, estaria montando uma "sucursal" do Taliban na Grã-Bretanha.  "Ele tinha algumas ligações com Faisal Shahzad, mas a natureza desses laços não está clara", disse o funcionário.  Autoridades da Europa e EUA dizem que preocupações envolvendo cerca de cem muçulmanos da Alemanha que viajaram do seu país para regiões tribais do Paquistão também contribuem com os alertas. No começo de setembro, o grupo Tehrik-e-Taliban Pakistan (TTP) prometeu realizar "muito em breve" atentados nos EUA e na Europa. A facção já havia feito ameaças semelhantes anteriormente, mas o frustrado atentado de Shahzad na Times Square foi o complô mais próximo de ser realizado.  Antes de ser sentenciado, Shahzad criticou a presença militar ocidental no Iraque e Afeganistão, e disse ser "a primeira gota da inundação que se seguirá." Ele também fez uma menção a Osama bin Laden, o líder da Al Qaeda.  O TTP assumiu a autoria da maioria dos recentes ataques contra quase 70 caminhões da Otan.  Analistas dizem que a possibilidade de fechar as rotas de suprimento dá poder de barganha para o Paquistão, embora o governo local costume atribuir as interdições a questões de segurança, e não à pressão política.  As tensões podem se agravar caso Washington exija mais cooperação paquistanesa antes do início da desocupação gradual do Afeganistão, a partir de julho de 2011, quando certamente surgirão preocupações com a estabilidade afegã.  Na quarta-feira, dois mísseis, supostamente lançados por um avião teleguiado dos EUA, atingiram uma casa em Miranshah, principal cidade da região paquistanesa do Waziristão do Norte, matando seis militantes, segundo fontes locais de inteligência. Horas depois, outro bombardeio teleguiado matou três militantes numa cidade próxima.  Não foi possível verificar nenhum dos dois incidentes de forma independente.

Fonte: O Globo e Agência Reuters - Reportagem adicional de Saud Mehsud, em Dera Ismail Khan; e de Kamran Haider

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