ALMA observa fábrica de cometas e dá pistas de como nascem os planetas
ALMA
O
radiotelescópio ALMA inaugurado neste ano, que está no Chile, no
deserto do Atacama, já produziu resultados antes de estar a funcionar a
100%. Uma equipa de cientistas utilizou o aparelho e conseguiu detectar
no disco à volta de uma estrela uma região onde é possível o pó e os
gases agregarem-se para formarem cometas. É uma espécie de fábrica,
dizem. A descoberta é publicada hoje na revista Science e dá pistas para
um dos mistérios do espaço: como se formam os planetas. O Sistema Solar
com os seus
oito planetas não é um caso excepcional, nos últimos anos confirmou-se
que outros planetas abundam no Universo. O resultado final varia de
sistema estelar para sistema estelar, há por exemplo estrelas com
grandes júpiteres incandescentes a girar muito perto do seu Sol, em vez
de um planeta rochoso como Mercúrio. Mas não se percebe muito bem como é
que no início de vida de uma estrela os planetas conseguem emergir. O
que se sabe é que à volta de um sol recém-nascido haverá um disco de
poeira e esta poeira terá de se agregar formando corpos com massas cada
vez maiores que finalmente resultam nos planetas. Os modelos que
os cientistas foram testando no passado revelaram dois problemas. É
fácil duas partículas chocarem e unirem-se, mas objectos maiores ao
chocarem irão partir-se em pedaços mais pequenos. Por outro lado, à
medida que as partículas vão sendo maiores, os modelos mostram que há
uma tendência para elas viajarem em direcção ao Sol devido à gravidade.
Se
estes fenómenos realmente acontecessem na natureza como aparecem nos
modelos, então não estaríamos aqui. Por isso, os cientistas tentaram
observar estrelas em início de carreira para tentar encontrar uma
explicação. Uma
das hipóteses que já se tinha proposto era existirem de regiões seguras
no disco estelar onde o pó podia calmamente agregar-se. Foi algo
parecido com isto que Nienke van der Mare, doutorando do Observatório de
Leiden, na Holanda, ajudou a identificar. O investigador e outros
colegas trabalharam com o ALMA para estudar o disco da estrela Oph IRS
48, que tem 15 milhões de anos e situa-se a 391 anos-luz. A
equipa encontrou uma região no disco estelar onde as partículas de gás
maiores parecem estar presas. Esta região com a forma de “castanha de
caju”, segundo Nienke van der Mare, terá sido provavelmente criada por
um grande planeta ou pequena estrela que, ao passar, deixa atrás de si
uma espécie de vórtice onde estas partículas ficam bloquedas e podem
agregar-se fazendo crescer corpos maiores. “É provável que
estejamos a olhar para uma fábrica de cometas já que as condições são
boas para que as partículas cresçam até objectos do tamanho de cometas.
Não é provável que o pó cresça até formar planetas já que esta bolsa
está muito longe da estrela”, explica o investigador. “Mas dentro de
pouco tempo o ALMA será capaz de observar estas armadilhas de poeira
mais perto da estrela, onde os mesmos mecanismos estão a acontecer.
Essas armadilhas seriam mesmo os ninhos de planetas acabados de se
formar.” Mas num comentário da Science ao artigo, Philip
J. Armitage, da Universidade do Colorado, indaga se será mesmo assim.
Esta bolsa de poeira observada pelo ALMA nasceu devido à existência
prévia de um corpo maior. Se esta for a única maneira de haver uma
porção de céu seguro, como se terá formado o primeiro planeta? Ficamos à
espera das resposta.
Fonte: Público.pt - Matéria de Nicolau Ferreira
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