Ministros revelam patrimônio em iniciativa inédita na França
Jean-Marc Ayrault
O
governo francês divulgou nesta segunda-feira à noite as declarações de
patrimônio de todos os seus membros em uma iniciativa inédita,
consequência do caso Cahuzac e primeira etapa de uma moralização que
busca restaurar a confiança entre o mundo político e os cidadãos. Publicadas na internet, essas declarações listam os bens
imobiliários, joias, obras de arte e veículos pertencentes aos 37
ministros e ao chefe de governo, Jean-Marc Ayrault. Em meio às declarações é possível descobrir que Ayrault possui uma
Combi de 1988, avaliada em 1.000 euros. O ministro das Relações
Exteriores, Laurent Fabius, está entre os mais abastados, com um
patrimônio de 6 milhões de euros. Sem surpresas, os jovens ministros reúnem um patrimônio mais modesto,
a exemplo da mais nova do governo, a porta-voz Najat Vallaud-Belkacem,
de 35 anos, que declara cerca de 100.000 euros, incluindo uma scooter
Piaggio de 50 cm3. De acordo com pesquisas, a maioria dos franceses é favorável a esta
publicação após o escândalo das mentiras do ex-ministro do Orçamento
Jérôme Cahuzac sobre uma conta bancária secreta no exterior em seu nome,
mesmo que parte da classe política denuncie um "voyeurismo". "Em toda uma série de países, esta transparência existe e virou
hábito", ressalta a assessoria do chefe de governo, que reconhece que
esta medida não teria sido suficiente para descobrir a conta oculta de
Jérôme Cahuzac. François Hollande não divulgou nesta segunda seu patrimônio, que já
havia sido declarado há um ano, em ocasião das eleições presidenciais.
Segundo essa declaração de maio de 2012, o patrimônio do chefe de Estado
chega a 1,17 milhão de euros. A publicação do patrimônio dos ministros deve valer no futuro também
para os parlamentares, presidentes de entidades locais e outros membros
de gabinetes ou altos funcionários. Um projeto de lei de moralização da vida pública, prometido pelo
presidente Hollande e apresentado no dia 24 de abril no conselho de
ministros, deve impor a essas autoridades a mesma transparência, apesar
das reservas manifestadas pela maioria. A crítica mais contundente veio do presidente socialista da
Assembleia Nacional, Claude Bartolone, segundo o qual "declarar,
controlar, punir, é transparência", enquanto "publicar é voyeurismo". A ministra dos Idosos, Michèle Delaunay, que declarou 5,4 milhões de
euros, se disse preocupada com o risco "de condenação", reconhecendo que
seu "grande patrimônio dificilmente é compreensível para a maioria dos
franceses que estão em dificuldade". Na direita, alguns também apoiaram a futura regra, como o ex-primeiro-ministro François Fillon, mas as críticas são fortes. "Pobre França! Com a aceleração dos déficits, do desemprego, com a
necessidade de fazer reformas importantes, qual é o debate do dia? Como
fazer uma escala Richter dos ministros mais ou menos ricos", ironizou o
líder da UMP (União por um Movimento Popular), principal partido da
oposição de direita, Jean-François Copé. Para ele, "a única consequência de tudo isso, é que o este voyeurismo
(fará com que) um certo número de pessoas que vem da sociedade civil -
comerciantes, artesãos, profissionais liberais - não terão mais vontade
de se comprometer pelo país". O objetivo "não é a caça aos ricos", é acabar com "a suspeita" da
população em relação aos políticos, insistiu o ministro das Relações com
o Parlamento, Alain Vidalies. Ao tomar esta iniciativa, François Hollande atacou um tabu da sociedade francesa. "Na França, não sabemos exatamente o que ganham nossa família, nossos
amigos ou nossos vizinhos e não é de bom tom perguntá-los", ressalta a
socióloga Janine Mossuz-Lavau. Referindo-se a uma pesquisa sobre a
relação dos franceses com o dinheiro e a um estudo semelhante sobre a
sexualidade, ela constatou que os consultados "falavam com muito mais
dificuldade de dinheiro do que de sexualidade"
Fonte: Portal Terra
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