Centro-esquerda é favorita para vencer na Itália, sob a ameaça de Berlusconi
Pier
Luigi Bersani
Após o curto período de governo tecnocrata, os italianos irão votar nos
dias 24 e 25 deste mês em eleições em que a centro-esquerda de Pier
Luigi Bersani é favorita, embora a volta da centro-direita de Silvio
Berlusconi possa inclusive levar à ingovernabilidade do país. Nesse duelo histórico entre a centro-esquerda e a centro-direita, com
mais ou menos os mesmo protagonistas que nas eleições dos últimos 20
anos, se intrometeu Mario Monti, o ex-comissário europeu eleito pelo
chefe de Estado, Giorgio Napolitano, para guiar o país após a renúncia
de Berlusconi em novembro de 2011, e que decidiu passar à política para
continuar sua ação reformadora. Os 51 milhões de italianos com direito a voto enfrentarão nas urnas
várias situações incomuns que fazem destas eleições um verdadeiro
quebra-cabeças. Berlusconi se apresenta como líder de uma coalizão
formada por seu partido, Povo da Liberdade (PDL), a Liga Norte e outras
formações de direita, mas não é o candidato a presidente do Governo. Por sua vez, Monti, que representa a coalizão de partidos e
associações centristas, não aparece nas listas eleitorais, por já ser
senador vitalício e não poder concorrer a uma cadeira. Segundo as últimas pesquisas publicadas há 15 dias, a coalizão de
Monti alcançará apenas 16%, mas poderá se tornar o verdadeiro
protagonista dessas eleições, pois seus votos podem ser decisivos para
conseguir a maioria, sobretudo no Senado, o campo onde as eleições serão
verdadeiramente disputadas. Segundo as últimas pesquisas publicadas 15 dias antes das eleições, a
coalizão de Bersani pode obter entre 34% e 38% dos votos, enquanto
Berlusconi alcançaria entre 28% e 30%. Com esses dados, na Câmara dos Deputados, Bersani obterá maioria
absoluta, e a verdadeira incógnita nestas eleições é se passará no
Senado, onde o complicado sistema eleitoral prevê prêmios segundo os
resultados regionais. Assim, serão decisivas as regiões da Lombardia, norte da Itália, onde
das 49 cadeiras, 27 irão para a coalizão vencedora e o resto para os
demais partidos e na Sicília, onde são distribuídas 14 ao ganhador e 11
aos restantes. Tudo indica que Bersani precisará buscar alianças se almejar maioria
absoluta no Senado e evitar assim o problema da ingovernabilidade, que
seria devastador para um país ainda imerso na crise e à mercê dos
mercados. Bersani abriu as pesquisas com uma enorme vantagem, mas pouco a pouco
foi caindo, enquanto a batalha eleitoral se concentrou nas fortes e
contínuas pressões entre Berlusconi e Monti. Berlusconi parece ter subido, segundo as pesquisas, graças a uma
campanha eleitoral baseada em frequentes aparições televisivas e em
promessas incríveis. Em suas muitas aparições na TV, "Il Cavaliere" não só prometeu abolir
o imposto sobre o primeiro imóvel (IMU, em italiano) reintroduzido por
Monti, mas também devolver o dinheiro desembolsado pelos italianos,
assim como uma anistia fiscal total para quem tem dinheiro em contas no
exterior. Com uma pressão fiscal de 45% no país, e as últimas medidas de
austeridade aplicadas por Monti, os italianos - e entre eles, sobretudo,
os cerca 30% de indecisos - poderiam se deixar convencer por essas
promessas. Por isso, os impostos foram um dos temas centrais na campanha
eleitoral, mas Monti e Bersani, conscientes da situação econômica que o
país atravessa, só se atreveram a prometer reduções futuras no IMU e
tímidas ajudas para as famílias. Sobre os temas sociais e estimulados pelas leis aprovadas em outros
países europeus, tanto Monti como Bersani se comprometeram a legislar os
direitos dos casais homossexuais, mas sem pronunciar a palavra
"casamento". A presença na mídia e o "bombardeio" nas redes sociais foram a tônica
da campanha eleitoral na Itália, onde em muito poucas vezes os líderes
políticos estiveram em contato direto com os eleitores. Quem decidiu fazer corpo a corpo nas praças das cidades, e as lotou,
foi o chamado partido da "antipolítica", o Movimento 5 Estrelas do
comediante Beppe Grilo, que está destinado a incentivar ou
desestabilizar, dependendo de quem analisa, o panorama político
italiano, já que conseguiria até 50 deputados - a mesma quantidade de
Monti - o que na Itália pode ser decisivo para aprovar leis ou fazer
governos renunciarem.
Fonte: Portal Terra
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