Ex-diretor diz que Dnit tinha problemas com a Delta e culpa Cachoeira por saída
Luiz Antônio Pagot
O ex-diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) Luiz Antônio Pagot afirmou, em depoimento à CPI do Cachoeira , prestado nesta terça-feira, que a empresa Delta Construções - construtora acusada de envolvimento com o esquema de Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira - lhe dava problemas no Dnit em relação à execução de obras e que ficou "extremamente estarrecido" ao saber que sua saída do órgão foi provocada por um complô entre o bicheiro e Cláudio Abreu, representante da Delta no Centro-Oeste. Pagot assumiu o cargo de diretor-geral do Dnit em 2007 e foi afastado em 2011, após denúncias de irregularidades que forçaram também a saída do então ministro dos Transportes , Alfredo Nascimento, e abriram uma crise política entre o PR e a presidente Dilma Rousseff . "Foi um episódio amargo na minha vida. Depois, quando começava a me restabelecer, depois de um período em que me sentia um morto-vivo, um fantasma, tive a notícia de que um contraventor e o diretor de uma empresa tinham sido responsáveis por minha saída", afirmou, em referência a Carlinhos Cachoeira e a Claudio Abreu, diretor do braço da Delta no Centro-Oeste. “O momento de minha saída, sem qualquer possibilidade de defesa, foi sob o prisma de absoluto isolamento." Escutas telefônicas da Polícia Federal revelaram articulações de Cachoeira contra Pagot, por ter contrariado interesses da construtora Delta. No dia 10 de maio de 2011, segundo gravações da PF, Cachoeira disse a Cláudio Abreu, que “plantou” as informações contra Pagot na imprensa. “Enfiei tudo no r... do Pagot”, diz Cachoeira na gravação. Pagot citou na CPI alguns episódios envolvendo obras sob responsabilidade da Delta que poderiam ter provocado "enorme dissabor" a Claudio Abreu. "Em vários processos em andamento no TCU e na rede de controle implantada pelo governo (formada por Controladoria-Geral da União, Tribunal de Contas da União, Ministério Público Federal e Polícia Federal), muitas vezes fui informado de que a Delta estava com problemas", afirmou. O ex-diretor citou que na obra da BR-116, no Ceará, a construtora havia subcontratado uma empreiteira local sem autorização do Dnit. "Nós obviamente abrimos um procedimento sobre isso", afirmou Pagot. Ele acrescetou que na BR-104, em Pernambuco, havia uma reivindicação de um aumento de aditivo de preço que não foi aceita pelo departamento. Ele citou também uma obra no Mato Grosso na qual havia uma grande quantidade de placas de concreto que estavam fora do padrão do contrato, e o Dnit exigiu sua troca. "Esses fatos todos em que nós agimos no interesse de preservar a qualidade das obras e agilizar os cronogramas foi causando um enorme dissabor ao senhor Claudio Abreu. Imagino que por isso ele tomou essa decisão com o contraventor para patrocinar a matéria jornalística que acabou me tirando do Dnit", disse Pagot em relação à matéria veiculada na revista Veja. Segundo a referida matéria da Veja , havia um esquema montado na cúpula do Ministério dos Transportes que era baseado na cobrança de propinas de 4% das empreiteiras e de 5% das empresas de consultoria que elaboram os projetos de obras em rodovias e ferrovias. Em troca do pagamento da propina, os fornecedores teriam garantia de sucesso nas licitações, seriam beneficiados com superfaturamento de preços e teriam liberdade para fazer aditivos, o que também elevava o valor das obras. De acordo com a revista, a maior parte teria como destino o PR e uma parcela seria distribuída aos parlamentares dos Estados em que a obra era realizada. Pagot afirmou que tinha o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, Lula havia lhe convocado para o cargo em 2007 para ser "um tocador de obras". "Não se aflija com as adversidades, supere a burocracia e faça as obras que o Brasil espera. Apoio você vai ter", teria dito o ex-presidente, segundo Pagot. O ex-diretor também narrou à CPI sobre sua presença em um jantar realizado na casa do senador cassado Demóstenes Torres (ex-DEM) com a presença de Fernando Cavendish, ex-proprietário da Delta, e Claudio Abreu. Em uma conversa reservada durante o jantar, segundo Pagot, Demóstenes havia dito que tinha contraído dívidas de campanha com a Delta e que precisava "ter alguma obra com meu carimbo". "Eu respondi a ele que lamentava, que não podia atendê-lo", afirmou Pagot. O ex-diretor do Dnit disse que não conhece Cachoeira pessoalmente.
Fontes: Agência Reuters Brasil e Último Segundo
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