Juan Manuel Santos
Vazamento do Wikileaks evidencia ruptura entre a política externa de Uribe e a de Santos, dizem especialistas
A revelação pelo Wikileaks de documentos diplomáticos produzidos em 2008 na embaixada norte-americana em Bogotá mostrou que as administrações de Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos guardam diferenças profundas no que se refere à política externa, na opinião de especialistas entrevistados pelo Opera Mundi. Enquanto o ex-presidente, de acordo com um dos despachos, reclamava com os Estados Unidos de um “imperialismo brasileiro” na América do Sul, Santos fez do Brasil seu primeiro destino internacional após a posse, em abril de 2010. Além disso, em outro documento, Santos – então ministro da Defesa – expressou preocupação com a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, suspeitando se tratar de “uma manobra venezuelana”. Quando eleito, uma de suas primeiras ações foi dar início à retomada das relações diplomáticas com a Venezuela, rompidas no governo Uribe. Para Arlene Tickner, analista internacional e professora da Universidade de Los Andes, “não existem dois Santos, mas percebemos que as mudanças em seu comportamento se devem às suas distintas funções institucionais”. Segundo Arlene, quando Santos era ministro, representava o governo Uribe, que era avesso à integração regional, como a Unasul (União de Nações Sul-Americanas). “Isso porque considerava que essas subestruturas regionais poderiam encurralar o país e colocá-lo em posições incômodas frente a temas como o conflito armado.” A analista considera que Santos, por sua vez, enxerga a região e a participação em esquemas subregionais como uma necessidade para diversificar as relações internacionais do país e para reduzir os altos níveis de dependência da Colômbia com os EUA. O ex-ministro Camilo González Posso, hoje diretor do think tank Indepaz, enxerga um certo “transformismo” do presidente: “O Santos ministro estava completamente alinhado com a política de Uribe, e agora acredito que exista uma reformulação, apesar de algumas muitas continuidades”. Para González, as relações internacionais colombianas atualmente são mais multilaterais e há mais manejo diplomático quanto à América Latina, em oposição ao governo Uribe, que tinha como prioridade a luta anti-terror. “Santos, em contraste, busca como princípio fundamental as relações comerciais. Esse governo é diferente da coalizão do governo Uribe, oriunda do paramilitarismo.” Outro aspecto importante, de acordo com Arlene, é que é preciso considerar que entre 2008, quando os documentos vazados pelo Wikileaks foram elaborados e 2011, houve uma paulatina conclusão, dentro da Colômbia, especialmente por parte das elites políticas e econômicas, de que é importante reparar as relações com os países da região e, não somente com os vizinhos, mas também os líderes regionais. Segundo González a explicação é que existe uma reacomodação em nível mundial com o surgimento dos chamados países emergentes. “Em nossa região, o Brasil se tornou o líder e equilibra o peso dos EUA. Neste novo cenário, a Colômbia começa a jogar um pouco mais com a multidependência em vez da histórica relação bipolar com os EUA.”
Fonte: Ópera Mundi
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