segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma Rousseff

Nos primeiros meses de Dilma, será possível mensurar a influência de Lula


Pós-eleição é tempo de especular. Uma especulação em especial deve bombar nos próximos dias e semanas. Quanto Luiz Inácio Lula da Silva influirá no governo Dilma Rousseff?Se o sujeito ausculta no entorno de Lula, a impressão é que muito. Já o entorno de Dilma é algo mais impermeável a especulações.Quanto da força de Lula é pessoal e quanto vem do desempenho do governo dele? E quanto do combustível eleitoral de Dilma virá da sombra de Lula e quanto virá da caneta?O mapa eleitoral nos estados, completado neste segundo turno, é um termômetro da relatividade da força política pessoal do presidente da República. Nos principais lugares onde se envolveu na disputa local, Lula foi derrotado.O fecho veio com a eleição do desafeto Marconi Perillo (PSDB) em Goiás. Depois da derrota no primeiro turno em Santa Catarina, estado no qual bradou para que o eleitorado extirpasse o Democratas, e viu o candidato do DEM ser eleito no primeiro turno, o revés em Goiás foi o veredito final sobre a relatividade do conceito de “lulismo”.A Presidência é atividade cotidiana, política e gerencial. E quem tem o poder, a caneta para nomear e ordenar despesas, concentra também as expectativas do mundo político e empresarial.Lula não vai ficar trancado em casa em São Bernardo do Campo (SP) esperando os telefonemas de Dilma para ajudar a resolver os problemas com os quais ela não conseguiria lidar sozinha.A influência de Lula poderá ser medida em detalhes bem terrenos. Quanto da equipe atual será mantida? Não nos ministérios, moeda de troca com os partidos, mas nos escalões executivos e principalmente nas estatais.Entretanto, mesmo os sobreviventes cometerão um grave erro se imaginarem que a continência deve ser batida com os olhos voltados para o ABC. Será uma escolha fatal.Nos tempos turbulentos do começo da Nova República, a expressão mais recorrente era “chamem o Pires”. Leônidas Pires Gonçalves era o Ministro do Exército. Felizmente, o governo José Sarney começou e terminou e ninguém chamou o Pires.Nos momentos duros que virão (todo governo é assim), haverá a tentação de pedirem para Dilma “chamar o Lula”. De fato, a artilharia verbal do futuro ex-presidente poderá ser útil à sucessora para ferir — ou matar — adversários políticos em circunstâncias complicadas.Mas só isso. Não é imaginável que Lula venha a desempenhar na administração Dilma o papel que, por exemplo, Néstor Kirchner tinha no governo da mulher, Cristina. Não terá poder de veto.De onde vêm os principais desafios à nova presidente? Da armadilha cambial, atrelada ao juro alto, com as consequências sobre a balança comercial, a atividade econômica e o emprego. Da heterogeneidade da base política. Da força remanescente da oposição, que consolidou uma plataforma política para voos futuros.Quanto Lula poderá ajudá-la a administrar essas tensões?A presidente eleita do Brasil, Dilma Rousseff, já tem uma pré-agenda determinada para as próximas semanas. Após vencer o segundo turno da corrida eleitoral, a petista concede entrevista coletiva hoje à tarde. Depois, reservará uma semana para descansar em Porto Alegre, onde vive a filha Paula e o neto Gabriel. Já como futura presidente, ela embarca ao lado de Lula para uma viagem oficial a Moçambique e deve participar da reunião do G-20 na Coreia do Sul, marcada para a semana que vem.O acirramento de ânimos entre petistas e tucanos na reta final da campanha deu lugar a reações contidas de ambos os lados depois do anúncio da vitória de Dilma Rousseff (PT). A maioria dos aliados do presidenciável José Serra (PSDB) optou pelo silêncio. Os petistas, por sua vez, anunciam em coro que as diferenças eleitorais serão superadas a partir de hoje e que o governo não perseguirá ninguém. “Com o fim das eleições baixa o calor, e a partir de amanhã (hoje) a oposição terá diálogo com o governo”, afirmou o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha.Ainda ontem, os petistas definiram o papel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um “conselheiro eventual” no mandato de sua pupila. “É Dilma que vai escolher os momentos em que terá Lula a seu lado. Ele não é um obstáculo, não é um peso, é um facilitador”, aponta o governador reeleito de Sergipe, Marcelo Déda (PT).Já o governador reeleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), aposta em um governo com mais técnicos e menos políticos. Aliados da presidente eleita apostam em um perfil de gestão diferente do formado por Lula, mas a presença do líder petista será uma constante. “Ela é bem diferente do presidente. Ela não tem barba”, brinca o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Segundo Bernardo, o governo negocia com o Congresso alterações no projeto de Orçamento que está em análise para incluir propostas apresentadas pela presidente eleita na campanha. “Algumas alterações no Orçamento já estão em negociação com os parlamentares, para que compromissos do governo possam estar presentes no Orçamento”, informou.O presidente do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos, afirma que a legenda foi presenteada com a vitória de Dilma. O partido, lembra Campos, foi um “aliado de primeira hora”. “Nós mudamos de patamar. Mas não somos aliados de dar problema. Podemos ajudar na área da Saúde.” Com a vitória de Dilma, o PSB espera herdar os ministérios da Saúde e da Educação.José Gomes Temporão afirmou ontem que sente orgulho de colocar em seu “currículo” que foi ministro da Saúde no governo Lula. O atual comandante da pasta não quis falar sobre a futura participação na gestão de Dilma, mas alertou que a presidente eleita precisará criar novos caminhos para investir na área. “Ainda não foram consolidadas as fontes de receita que serão definidas para custear as melhorias na saúde”, afirmou Temporão, referindo-se à criação de imposto semelhante à extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).O senador eleito por Minas Gerais Aécio Neves (PSDB) divulgou nota elogiando a importância das eleições deste ano. “O PSDB se orgulha do candidato e das propostas que apresentou ao país. Estou certo de que, com o tempo, ainda mais brasileiros vão ter consciência do importante papel desempenhado neste pleito. Ao contrário do que pode parecer para muitos, a eleição não se resume a quem venceu e a quem perdeu.” O ex-prefeito Cesar Maia (DEM-RJ), por sua vez, ressaltou que a vitória de Dilma contra Serra foi mais apertada em comparação à eleição de 2006, quando o atual presidente venceu Geraldo Alckmin (PSDB). “Em 2006, o Lula venceu o Alckmin por 21 milhões de votos. Agora a Dilma venceu por 11 milhões de votos”, lembrou. O último jantar de Dilma Rousseff antes de se tornar a mulher mais poderosa do Brasil foi preparado por Ana, namorada de seu ex-marido, Carlos Araújo. Antes mesmo das 19h de sábado, Ana já estava na cozinha, enquanto ele fazia uma avaliação do processo eleitoral para a reportagem do Correio: “A pessoa mais feliz desta campanha é o Bornhausen (Jorge Bornhausen, ex-presidente do PFL, hoje DEM). Ele realizou o desejo de ver o PSDB dominado ideologicamente pelo DEM”, afirmou. “O PSDB assimilou tudo, desde os métodos até as consígnias. Esse foi um dos fenômenos desta campanha”, disse o ex-marido de Dilma.Do alto de quem acompanha de perto a história política do Brasil e participou ativamente da luta pela redemocratização, Carlos aposta que, a partir de agora, haverá uma reacomodação partidária. “Nessa rearticulação de partidos deve surgir uma nova legenda, centrista clássica. O fracasso do PSDB na sucessão presidencial e o fato de ter adotado uma nova linha ideológica vão gerar o surgimento de um novo partido”, comenta, sempre tomando o cuidado de registrar que fala por si e não pela nova presidente.Sobre Dilma e o futuro governo, o discreto Carlos apenas repete a frase de Lula: “Quem acha que a Dilma não vai governar o Brasil não conhece a Dilma.Ela terá as rédeas do governo”, diz o advogado de 72 anos, que recupera-se de complicações de um enfisema pulmonar decorrentes da tensão desta reta final de campanha. Depois de degustar o filé com alho, arroz, feijão e salada preparados por Ana, Dilma conversou um pouco. Bastante confiante, antes das 23h já estava de saída. Precisava descansar, certa de que o dia seria longo e terminaria com a festa da vitória em Brasília.

Fonte: Correio Braziliense

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