Reva Bhalla
IOF é retrocesso e não muda câmbio, dizem analistas nos EUA
O aumento da alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para 4% para os investimentos estrangeiros em renda fixa, que entrou em vigor nesta terça-feira, 5, deixou o Brasil um pouco menos atraente, mas não deve resolver o problema de valorização do real, acreditam analistas dos Estados Unidos entrevistados pela Agência Estado. "Acho que é um retrocesso. Usar controle de capitais é uma decisão questionável", avalia David Beker, chefe para América Latina em Estratégia Econômica e Renda Fixa do Bank of America-Merrill Lynch em Nova York. Segundo ele, esse instrumento já foi utilizado no passado sem muito sucesso e mesmo a adoção do IOF de 2% para capital estrangeiro, em outubro do ano passado, teve pouco impacto na trajetória do real. Nos anos 90, o governo cobrava IOF de 5% sobre capital estrangeiro que entrasse no País e chegou a subir a alíquota a 9%. Ela foi reduzida depois e eliminada em 1999. Para Beker, o aumento do IOF ontem não surpreendeu. "Tinha muito ruído vindo da Fazenda sobre o nível do câmbio e sobre o tamanho da intervenção", disse. O fato de o dólar ter rompido o nível de R$ 1,70, segundo ele, pode ter sido decisivo para que o governo anunciasse a medida ontem, um dia após as eleições e não após o segundo turno, como esperavam muitos analistas. O analista, no entanto, disse que as regras para o diferencial das alíquotas não ficaram claras. O IOF de 4% vale para investimento de capital estrangeiro em renda fixa, enquanto para os investimentos estrangeiros em ações a alíquota continua sendo de 2%. "O governo precisa explicar melhor as regras. Como você controla a pessoa que comprou ações, depois as vende para comprar renda fixa? Como funciona o diferencial de alíquotas em casos assim?", questiona Beker. Para Beker, a medida tem impacto de curto prazo e reduz a atratividade do País. Só não deve conseguir ser eficaz naquilo que o governo mais quer: enfraquecer um pouco o real. "Acho que é mudança importante. O Brasil de ontem para hoje está menos atrativo. Mas não acho que a solução para a apreciação do real seja o IOF", afirmou. De acordo com o economista, o governo deveria tentar reduzir o fluxo de capital por meio de ajuste fiscal e permitindo que os juros reais caiam mais. "Quando o juro real cai, diminui a atratividade de comprar posições em renda fixa doméstica. O que tem que ser feito é criar condições para o juro real cair", afirmou. Para Robert Wood, economista-sênior para América Latina da Economist Intelligence Unit (EIU) em Nova York, o aumento do IOF pode ter algum efeito apenas no curto prazo. "E então os fundamentos devem voltar a prevalecer, renovando a pressão sobre o real diante do alto diferencial de juros, perspectivas boas de crescimento do País, contexto de abundante liquidez global e juros baixos nas economias avançadas. Sobre o timing da decisão, Wood avalia que o governo fez o anúncio no momento correto. "O real já tinha rompido a marca de R$ 1,70, que o governo parece estar defendendo. Também é possível que os investidores estivessem antecipando posições à espera de um IOF mais elevado e Mantega queria impedir que isso ocorresse", afirmou Wood. "Além do mais, o governo foi esperto ao tomar a decisão num momento em que os brasileiros estão mais focados no fato de Dilma Rousseff (PT) não ter ganho as eleições no primeiro turno. Por fim, o governo não quis arriscar e esperar até novembro para subir o IOF, dado o elevado apetite por risco que tem fortalecido o real", completou. "A medida pode ajudar a conter parcialmente a especulação, mas os altos juros do Brasil ainda fazem do País um lugar atraente para especuladores. Além do mais, a questão de apreciação do real é muito mais profunda", analisa Reva Bhalla, diretora de análises da consultoria Strafor, em Washington. O fato é que não há solução fácil ao problema cambial no Brasil. Enquanto as commodities dominarem as exportações brasileiras e o País continuar sendo um imã para investimento estrangeiro, mais dólares vão seguir entrando, impulsionando ainda mais o real", afirma Bhalla.
Fonte: Estadão
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