Marina Silva
Principal expectativa neste 2º turno é para quem vai o apoio de Marina
O que define uma eleição de segundo turno? Dois fatores importantes são o deslocamento das forças políticas e as flutuações no comparecimento. E, naturalmente, o desempenho individual de cada um dos finalistas. De cara, sai ganhando quem está posicionado para atrair por gravidade os eleitores de quem não passou para a rodada decisiva. Foi assim com Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e 2006. Na primeira, recolheu os náufragos de Anthony Garotinho e Ciro Gomes. Rachou o eleitorado de ambos com José Serra no segundo turno e fechou a fatura numa proporção de três votos para cada dois do adversário. Ciro e Garotinho eram candidatos de forças políticas “à esquerda”. Serra precisaria ter carregado os eleitores de ambos em bloco, o que não era natural. Quatro anos depois, Geraldo Alckmin ficou na dependência de embarcar os eleitores de Heloísa Helena e Cristovam Buarque, outra improbabilidade. Lula não só arrastou a turma de ambos como, à custa de novas alianças políticas no segundo turno, impôs que Alckmin tivesse menos votos do que no primeiro, uma raridade. Deu de novo 3 a 2, 60% a 40% dos votos válidos. E, nesta eleição, haveria uma tendência natural de deslocamento dos eleitores de Marina Silva? O primeiro detalhe a considerar é que os votos dela não podem ser automaticamente classificados como à direita ou à esquerda. Como ela mesma vinha dizendo, sua candidatura quebrou essa polarização, acabou servindo de refúgio tanto para gente da oposição que não desejava Serra quanto para eleitores da situação que rejeitaram Dilma. Os números, porém, evidenciam o crescimento de Marina no eleitorado potencial de Dilma. O que vai fazer esse eleitor? Vai voltar para onde estava, ou vai analisar a possibilidade de votar em Serra? Há também a dúvida sobre o que fará o PV. E, no caso de divergência entre o PV e Marina, ela ficará com o partido ou vai seguir um caminho próprio? O segundo detalhe é o comparecimento. Entre o primeiro e o segundo turnos, saem de cena todos os milhares de candidatos a deputado federal e estadual, além dos senadores. São eles os grandes cabos eleitorais dos candidatos majoritários. Por mais que o político esteja formalmente disponível para fazer campanha para outro, esse trabalho é completamente distinto quando ele tem que fazer também para si próprio. Isso acaba influindo no comparecimento, em particular nas regiões em que a afluência do eleitorado é mais dependente das máquinas eleitorais, como no Nordeste. Inercialmente, a tendência é que diminua do primeiro para o segundo turno. Ambos os candidatos precisarão mobilizar estruturas partidárias. Aqui quem leva vantagem é o PT. Resta saber quanto da tradicional capacidade de mobilização do PT está preservada e quando ficou no passado, agora que o partido está bem encaixado no poder. José Serra precisa avançar aceleradamente sobre os votos de Marina Silva para ultrapassar Dilma Rousseff no segundo turno. Além das tratativas políticas, Dilma e Serra correrão para adaptar o discurso, para encaixar melhor os 20% dos votos úteis que preferiram a verde no primeiro turno. Vão sobrar “sustentabilidade” e compromisso com o uso em grande escala das energias renováveis. Trabalho pesado para os marqueteiros, que terão que adaptar duas figuras com perfil tradicional da política brasileira, Serra e Dilma (Lula), a um formato palatável ao público mais jovem, mais esclarecido, mais disposto a uma terceira via, mais sedento por renovação. João Santana e Luiz Gonzalez vão ter que tirar coelhos da cartola. Nem Serra nem Dilma têm a leveza de Marina, o perfil de ambos é bem diferente do que ela mostrou. Gerenciais, desenvolvimentistas. É preciso também esperar para ver o impacto da agenda comportamental, dos valores e das propostas relacionadas a temas como aborto e drogas. O eleitorado de Marina votou nela sabendo-a evangélica e contrária à legalização do aborto. Prestará atenção nisso no segundo turno daqui a quatro semanas?Finalmente, resta olhar o desempenho nos debates. Deverá haver vários. E sempre podem aparecer novidades sobre a vida política a administrativa dos candidatos. No mano a mano, segundos turnos são receptivos a isso, à busca de coisas novas capazes de trazer o punhadinho decisivo de votos.
Fonte: Correio Braziliense - Alon Feuerwerker
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