José Padilha
CINEMA - Nascimento pede para sair
"Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma coincidência. Essa é uma obra de ficção". Com esse recado começa Tropa de Elite 2 que, assim como o primeiro longa, retrata fielmente a realidade do Rio de Janeiro. Porém, desta vez, José Padilha mira suas armas para aqueles que, na sua visão, sustentam as milícias cariocas e a corrupção dentro da polícia militar: os políticos. Em uma produção ritmada e com elenco afiado, o filme retoma a vida do Capitão Nascimento, agora Tenente-Coronel do Bope, após cerca de 10 anos e bem mais manso. Mas, depois de uma invasão equivocada ao presídio Bangu 1, o protagonista é forçado a deixar o comando de seu batalhão e ameaçado de exoneração. Porém, como a pressão pública apóia a atitude do comandante, o governador lhe dá um cargo de Sub-Secretário de Segurança Pública. A partir deste ponto, Padilha e o roteirista Braulio Montovani inserem dois conflitos importantes para conduzir a história: o jogo dos políticos para agradar a opinião pública e contraponto de visões direitistas e esquerdistas da sociedade. "Um dos eixos do filme é uma brincadeira da esquerda e direita. Acho que esses conceitos estão ficando vazios. Conceitos como esses vêm e acabam e significam cada vez menos", diz Padilha. "A gente quis fazer uma brincadeira opondo o Nascimento à esquerda [Deputado Fraga], mas ao longo do filme, os dois percebem que na prática podem trabalhar juntos", comenta o diretor. Tropa de Elite 2 direciona as críticas mais firmes para a situação decadente da corrupta policia militar carioca, trazendo o problema das milícias e responsabilizando diretamente os políticos pela manutenção destes problemas. No filme, Nascimento consegue secar a fonte de renda do tráfico, que sustenta policiais corruptos. Porém, acaba abrindo espaço para as milícias, uma forma mais lucrativa de extorsão, com a qual a polícia ganha poder, por meio da violência, para controlar as comunidades, se tornando inclusive excelentes cabos eleitorais. Desta forma, políticos se aliam aos marginais em busca de votos na época das eleições - período retratado como estratégico para evitar polêmicas e tomar atitudes de grande impacto na opinião dos eleitores em busca de votos, como invasão de favelas para buscar armas roubadas. José Padilha afirma que as histórias do filme têm base real. "O filme é feito de histórias reais modificadas, como a rebelião em Bangu 1 liderada por Beira Mar e com negociação de Marcelo Freche e a CPI das milícias". O diretor brinca com a reação de alguns políticos em relação ao filme: "Alguns reagiram antes mesmo do lançamento e entraram em contato para falar que não eram eles na história, mas não é nenhum deles. Embora insistam em se reconhecer neles". Sobre a possibilidade do filme ser acusado de panfletário, devido a data de lançamento acontecer durante o segundo turno das eleições presidenciais, José Padilha afirma: "A única maneira de ser panfletário seria tudo que está no filme ser mentira, que nenhum deputado tivesse sido eleito com apoio de milícias". E completa: "Não fiz esse filme para falar dessas eleições, porque, após acontecerem, tudo vai continuar sendo verdade". "Se o filme fizer com que Dilma e Serra falem de segurança pública, vou ficar feliz. Porque a segurança pública é o item que mais preocupara os brasileiros e pouco se fala sobre isso", alfineta o diretor. Outro aspecto apresentado são as alianças entre as facções criminosas e os meios de comunicação para conseguirem manipular a população, realizada com surpreendente humor pelo ator André Mattos, no papel de um apresentador de televisão demagogo e candidato à deputado federal, que tem alianças criminosas com milicianos.
Fonte: Yahoo - Gabriel Bonis/Especial para BR Press
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